Primeiras reações

Alguns já sabem que eu tenho uma tatuagem nas costas. Eu a fiz em 2009, após finalizar o meu primeiro curta, realizado com Jaime A. Herrera, Stendhal tenía razón. Tinha decidido que estudaria direção de fotografia cinematográfica e muitos pensavam que a tatuagem era apenas por isso, pelo meu desejo de enquadrar e de colocar a câmera, de olhar o mundo como se fosse uma fotografia. Mas na realidade, o significado ia muito além disso. Para mim, esse olhar, esse olho que decide o plano, é um ponto de vista. E como seres humanos, cada um de nós possui um ponto de vista único sobre o mundo. Único, mas não isolado. Através do cinema, uma pessoa pode contar histórias, pode mostrar o seu ponto de vista, mas pode comunicar e falar diretamente à alma de uma pessoa. Quando você assiste um filme e ri ou se emociona, quando ele lhe toca profundamente… você conecta com a pessoa que idealizou esse filme, esteja ela no Japão ou no Brasil, conheça você essa pessoa ou não. De repente, no escuro de uma sala de cinema, vocês se comunicam. E eu acho isso absolutamente mágico e é a razão pela qual decidi estudar cinema. Porque eu queria criar pontes. Talvez seja por isso que adoro os filmes em primeira pessoa, porque são de forma explícita o que são de todas formas. Uma tentativa de comunicação de um ponto de vista.

Toda essa introdução é para tentar transmitir a realização imensa que senti na noite de 13 de julho de 2017. Após 4 anos de trabalho, finalmente exibimos o primeiro corte do Voadores a um público de aproximadamente 160 pessoas, em uma sessão fechada em uma sala de cinema de Barcelona. Entre os convidados estavam crowdfunders, entrevistados, equipe e alguns amigos e familiares. Apesar de que já não posso “assistir” o Voadores (já assisti demais), dessa vez foi diferente… Durante a projeção do filme, rodeada do público, ia sentindo como o filme funcionava ao longo de seus 94 minutos de duração. Me surpreendia ao escutar pela primeira vez toda a sala dando risada com alguma frase que selecionei com a intenção de causar risadas, ou vendo as pessoas se emocionarem com algo que escrevi ou que selecionei para transmitir essa emoção. E perceber, pela primeira vez, que o seu filme funciona… que você alcançou o seu objetivo, que você finalmente está vivendo o que visualizou nos últimos 4 anos… é um presente que não tem preço. A cada minuto de filme descontava-se um quilo dos meus ombros, de toda a tensão acumulada nos últimos tempos. Entre aplausos finais me sentia tão leve e tão plena de gratidão que poderia ter morrido naquele exato momento e teria sido a melhor forma de deixar este mundo: Realizada.

Com tudo isso, só queria transmitir a imensa felicidade por este presente que estou recebendo. Me faz extremamente feliz escutar os seus comentários, saber o que mais gostaram, o que menos… mas principalmente ver nos olhos de vocês que nos comunicamos, de alma para alma.  Que vocês me entenderam. Que viram o mundo através dos meus olhos durante alguns momentos e que, talvez, isso os tenha levado a novas experiências e novas ideias sobre a vida.

Muito obrigada!